Ao longo de minha trajetória profissional, tive a oportunidade de vivenciar de perto diferentes culturas organizacionais. Algumas empresas exalavam um espírito de colaboração, onde as pessoas se sentiam motivadas e realizadas. E também já vi ambientes que, infelizmente, pareciam sugar a energia dos colaboradores.Nessa experiência, uma questão sempre me intrigou: qual é o limite entre uma cultura tóxica, uma cultura forte e uma cultura forte positiva?
Para começar, precisamos entender o que é uma cultura organizacional forte. Em termos práticos, é aquela em que os valores não estão apenas pendurados na parede ou no site institucional – eles são vividos no dia a dia. E há uma profunda coerência entre discurso e prática. Mas, essa cultura também é encontrada em organizações criminosas ou regimes ditatoriais, por exemplo.
Assim, vamos nos apegar à cultura organizacional forte e positiva. Uma cultura forte e positiva deixa um legado construtivo para a sociedade, baseia-se na transparência da comunicação, respeito mútuo, e cultiva um sentimento genuíno de pertencimento. As pessoas gostam de trabalhar ali porque têm identidade com opropósito da organização. Porém, uma cultura forte não significa ausência de desafios. Pelo contrário, eles fazem parte do crescimento profissional e organizacional. A diferença é que, em um ambientesaudável, os desafios vêm acompanhados de suporte.
As lideranças confiam em suas equipes e investem no desenvolvimento dos profissionais. Os erros não são punidos com humilhações públicas, mas usados como oportunidades de aprendizado. E esse modus operandi acaba criando um ciclo virtuoso: quanto mais a equipe sente que pode (e tem liberdade) para crescer, maismotivada e engajada ela fica.Agora, o oposto de uma cultura forte e positiva é uma cultura tóxica. E, infelizmente, muitas organizações ainda caem nessa armadilha. Mas o que caracteriza uma cultura tóxica?
Para começar, a comunicação é velada e pouco transparente e as relações são baseadas no medo e na dominância. Poder é muito importante. A chefia (não a liderança) comanda no estilo "manda quem pode, obedece quem tem juízo". A criatividade e a iniciativa são sufocadas porque qualquer passo fora da linha pode ser punido.
Nesse cenário, o ambiente de trabalho se torna pesado e as pessoas acabam tendo um enorme custo emocional, sempre pisando em ovos. Com um mínimo de consciência, na primeira oportunidade, pedem demissão.O grande desafio, então, é saber onde está o limite entre exigir resultados e construir uma cultura organizacional saudável. Numa cultura forte, há metas claras e cobrança por resultados, mas dificilmente valores velados, “vale tudo” e relações profundamente desrespeitosas.
Atualmente, a busca de equilíbrio é a palavra-chave. Empresas com culturas fortes reconhecem que os profissionais são adultos capacitados e responsáveis, capazes de lidar com desafios e entregar resultados. Mas essas mesmas organizações também sabem que, para alcançar a alta performance, é preciso criar um ambiente onde as pessoas são reconhecidas como fundamentais e que possuem e precisam cultivar coisas importantes que vão além do trabalho, como família, hobbies, esportes.
Isso não acontece à base de pressão e microgestão e sequestrando todas as horas do dia para desafios da empresa. Mas com clareza, autonomia e reconhecimento de necessidades humanas.Criar um ambiente de alta performance sem escorregar para o terreno tóxico não é tarefa simples, mas é possível. O limite entre uma cultura forte e uma cultura tóxica pode ser tênue, mas ele existe. E é responsabilidade das lideranças enxergá-lo e trabalhar ativamente para não ultrapassá-lo.
Então, vale refletir: como está a cultura da sua empresa hoje? Você vem construindo um ambiente forte e saudável ou flerta com o risco da toxicidade? O caminho para o equilíbrio começa com essa reflexão!
Por: João Roncati, diretor da People + Strategy, consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano.
Fonte: Contábeis